Sangue, emboscadas covardes, violência e ódio. Pistoleiros que aterrorizam comunidades tradicionais de Correntina, no oeste baiano abriram fogo na terça- feira (11/04) contra um grupo que fazia mutirão no Fecho de Pasto do Cupim. Três pessoas foram feridas, uma delas em estado grave.
A situação se repete naquele município, como em diversos outros lugares do estado: grileiros que querem arrancar a terra das mãos das comunidades tradicionais, que ali vivem e produzem há mais de duzentos anos, ameaçam seus moradores com violência a fim de expulsá-los do seu território.
Esse cenário não é novidade. Há anos ele vem crescendo diante dos olhos coniventes de governos estaduais e federais, que têm preferido o silêncio omisso à coragem de enfrentar a situação e os interesses do agronegócio que lucra com esta situação.
Estamos diante de dois modelos de sociedade: um que só deseja aumentar seu patrimônio, enriquecer mais e mais, e que no seu propósito de acúmulo predatório destrói a vida. Outro que defende bem viver para todos, respeito às pessoas e à natureza, para que todos e todas possam viver em paz, com qualidade e garantia de direitos.
Urge deixarmos bem claro qual é o nosso lado e nossa perspectiva de sociedade. Urge que o Governo da Bahia explicite publicamente sua posição e enfrente a situação nas suas múltiplas manifestações. O governador precisa acolher e dialogar diretamente com as comunidades para se inteirar do ocorrido e demostrar seu apoio. Conclamamos o governo a dar uma resposta digna e adequada. Já se passaram 16 anos de uma mesma orientação política na administração do estado e que ainda não conseguiu dar um basta neste tipo de situação.
É de extrema urgência uma investigação em nível policial e jurídico dos fatos mais recentes, mostrando a toda sociedade que na Bahia não cabe violência de nenhum tipo. O governo do estado deve estas providências a todos e todas que lutam e resistem cuidando da terra e das águas para seu sustento e das pessoas que ali convivem. A regularização fundiária dessas áreas é fundamental e não pode mais ser adiada, bem como a adoção de medidas de proteção às comunidades que, abandonadas a si mesmas, lutam sozinhas contra a covardia das armas mortíferas da grilagem.
Nós, integrantes da Articulação do Campo, através desta nota pública, queremos nos solidarizar com os companheiros e companheiras das áreas de Fundo e Fecho de Pasto – especialmente os atingidos no atentado – pela insegurança a que estão sujeitos, e queremos manifestar nossa revolta ante o fato de que estas ocorrências ainda existam na Bahia.
O Governo Jerônimo escolheu estar a serviço da vida e combater a fome no Estado. É incompatível com esta escolha deixar de tomar providências enérgicas ante os fatos que se apresentam.
Articulação do Campo
Bahia Salvador, abril de 2023